Circula no Facebook um vídeo em que um batido de banana, aveia e curcuma é apresentado como uma suposta “cura natural” para a depressão e para a ansiedade.

Na publicação defende-se que a aveia “auxilia na depressão” por possuir vitaminas do complexo B, alega-se que “já foi comprovado que a curcuma é antidepressiva” e afirma-se que a banana “aumenta a produção de serotonina” (conhecida como a hormona da felicidade). Mas será mesmo assim? Uma bebida à base de banana, aveia e curcuma trata a depressão?

É verdade que uma bebida de banana, aveia e curcuma trata ansiedade e depressão?

Em declarações ao Viral, João Palha, psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde Santa Catarina (CSSC), adianta que não existe evidência científica que comprove a eficácia de um batido de banana, aveia e curcuma no tratamento da ansiedade e da depressão.

Em primeiro lugar, refere o psiquiatra, no vídeo em análise “as afirmações não são fundamentadas por estudos”.

Além disso, acrescenta, “mesmo que se comprovasse que havia propriedades específicas benéficas em determinados alimentos”, não há forma de saber a quantidade em que essas propriedades estão presentes nos alimentos, nem é possível controlar esse aspeto, ao contrário do que acontece no caso dos fármacos.

“Até podemos dizer que a banana tem serotonina. Mas a questão não é essa. A questão é: qual é a quantidade? Como é que se regulamenta isso? E como se vê em relação a efeitos colaterais? É uma banana, meia banana? Uma banana quanta serotonina tem? E depois como é que se coordena isso com os outros medicamentos e com as interações medicamentosas?”, questiona.

Na visão do especialista, todas estas dúvidas tornam “quase impossível usar este tipo de método do ponto de vista clínico”.

Claro que, vinca o psiquiatra, “se a pessoa ingerir as vitaminas necessárias, isso ajuda não só na depressão, mas em quase todas as doenças”. Isto é, ter uma alimentação saudável, na qual se inclui a ingestão de comida rica em vitaminas, faz parte dos fatores que ajudam no tratamento da depressão e da ansiedade. “Não são fatores fundamentais, mas são fatores que ajudam”, reforça.

João Palha esclarece que “uma pessoa deprimida em boa forma física, com as vitaminas boas vai ter, à partida, um tratamento mais fácil do que uma pessoa com depressão com complexo B baixo e que não come fruta, por exemplo”.

Ter “um corpo saudável” é importante “numa depressão ou outra doença”, salienta. Contudo, “não se pode dizer que comer banana ou aveia – ou seja que alimento for – vai tratar uma doença específica, nomeadamente a depressão”, conclui.

Qual o tratamento aprovado para estas doenças?

Segundo João Palha, existem “três grandes pilares no tratamento das doenças depressivas e da ansiedade”.

Em primeiro lugar, “existem medicamentos que estão estudados – e a sua eficácia é comprovada ao longo de décadas – que tratam estas doenças”.

Depois, “a questão da psicologia, em muitas depressões e ansiedades, é fundamental”, porque muitas destas doenças “sem a vertente da psicologia não têm um tratamento verdadeiramente curativo”. 

Por fim, o terceiro pilar consiste na “vida saudável”, que passa, entre outras coisas, por uma “boa alimentação, prática de desporto e ter uma rotina”, conclui.

Importa sublinhar que os últimos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, “301 milhões de pessoas vivem com uma perturbação de ansiedade, entre as quais 58 milhões são crianças e adolescentes”.

A OMS ainda salienta que, nestes casos, “os sintomas são graves o suficiente para provocar um sofrimento significativo ou uma perturbação significativa do funcionamento”.

Por outro lado, também se refere que, em 2019, “280 milhões de pessoas viviam com depressão, incluindo 23 milhões de crianças e adolescentes”. Sendo que, frisa-se, “as pessoas com depressão correm um risco acrescido de suicídio”.

No entanto, a OMS informa que, tanto para uma patologia como para a outra, existem tratamentos médicos estabelecidos eficazes.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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